“(...) é que no soneto como na hóstia o corpo do Senhor, se concentra “a alma errante” da poesia, numa perpetuidade de fascinação e de deslumbramento.
Nada mais corriqueiro do que fazer dois quartetos e dois tercetos, rimados, cantantes, mas vazios, sem estruturação adequada, sem aquela indispensável purificação imaterial da cadência, a que chamam, pomposamente, de soneto. Nada mais sublime que fazer um bom soneto. Os rimadores vulgares enxameiam por ai. Os sonetistas de prol, esses são menos encontradiços e constituem a aristocracia da espiritualidade. (...)
(...) não se corre de nós recordar que o soneto teve os seus denegridores. É compreensível a atitude desses iconoclastas: complexo de inferioridade. Despeja impropérios contra o soneto somente quem não possui o dom de o compor, com arte e substância imaginativa.
Cassiano Ricardo, por exemplo, que se tornou um dos agentes do libelo contra esse invencível gênero poético, foi, como todos o reconhecemos, emérito poeta, detentor de invejável opulência lírica, artista de poemas admiráveis, como esse nacionalíssimo “Martim Cererê, mas não conseguiu produzir sonetos dignos da reverência crítica.(...)
Ora, a farândola modernista, implacável na destruição, teve outros focos para a sua irrupção e, salteadamente, explodiu alhures, com o futurismo, o dadaísmo , o imaginismo, o surrealismo, e o ultraísmo, enquanto, dentro das nossas fronteiras, vagia, timidamente, através do concretismo, para o qual, segundo um dos seus mais trêfegos profetas, Haroldo de Campos, “a melodia na música, a figura na pintura, o discursivo-conteudístico-sentimental na poesia são fósseis gustativos que nada mais dizem à mente criativa contemporânea”
Pelo que se vê, no fluxo da linguagem rebarbativa do seu profeta, esse movimento, em vez de concretismo deveria chamar-se concretinismo...
Como quer que seja, o fato é que o Modernismo, por seus vários esgalhamentos, pretendendo acabar com os gêneros de poesia consagrados pelo tempo, logrou extirpar, definitivamente, das nossas letras, fórmulas já caducas, como as baladas, os madrigais, as odes, os rondós, os vilaneetes, as glosas, os motes e outras tetéias dos moldes tradicionais, mas não conseguiu fazer o mínimo arranhão no soneto, propriamente dito, que continua vivo, brilhante, atual, invencível e – digamo-lo sem rebuços – eterno. (...)”
Como quer que seja, o fato é que o Modernismo, por seus vários esgalhamentos, pretendendo acabar com os gêneros de poesia consagrados pelo tempo, logrou extirpar, definitivamente, das nossas letras, fórmulas já caducas, como as baladas, os madrigais, as odes, os rondós, os vilaneetes, as glosas, os motes e outras tetéias dos moldes tradicionais, mas não conseguiu fazer o mínimo arranhão no soneto, propriamente dito, que continua vivo, brilhante, atual, invencível e – digamo-lo sem rebuços – eterno. (...)”
(Rangel Coelho)
Nota: Texto extraído do livro “O Mundo Maravilhoso do Soneto” de Vasco de Castro Lima, Livraria Freitas Bastos S.A. – Rio de Janeiro 1987
CONSIDERAÇÕES SOBRE O SONETO
(...) A disciplina do soneto vem seduzindo os poetas de todos os tempos, do Dante ao Petrarca, do Sá de Miranda ao Camões, só para falar de remotos antepassados portugueses e italianos. O mesmo acontece em castelhano, ou em inglês, que aqui é antes shakespeariano, como também acontece no antigo provençal e no francês moderno.
Esta velha escola de uma técnica sempre resistente e sempre renovável, depois do enxurro parnasiano que grassou no Brasil, com exceções da regra, a certa altura pareceu banida pelo afã modernizador de 1922. Logo, porém, voltaria, como voltou, na joalheria de um Jorge de Lima, de um Manuel Bandeira, de um Dante Milano e até de um Carlos Drummond de Andrade. (...)
De Shakespeare a Gregório de Matos, de Bocage a Antero, de Bilac a Raymundo Corrêa – o soneto é a mais rica tentação dos poetas. (...)
(Otto Lara Resende)
Nota: Trecho extraído prefácio do Livro “Outros Sonetos do Caderno” de Tite de Lemos, Editora Nova Fronteira - RJ
TRECHOS ESCOLHIDOS SOBRE O SONETO
“Síntese harmoniosa da quadra, estrofe popular, e do terceto estrofe culta, forma que lembra, em suas duas quadras e seus dois tercetos, a estrutura do coração humano com as suas duas aurículas e os seus dois ventrículos, o soneto é, nos grandes modelos, uma forma eminentemente subjetiva”
(Manuel Bandeira)
"Quando um soneto está pronto, isto significa que uma série de complexas operações mental ocorreu, conseguindo o homem, de uma coisa frágil e ilusória como a palavra, um objeto que resiste à inteligência, à cultura e ao tédio do leitor. Essa peça bem acabada se incorpora à vida de algumas pessoas. A glória do soneto é ser inesgotável."
(Paulo Mendes Campos)
"Para muitos o soneto é inibidor, mas eu acho que é a prova de fogo do poeta. Para mim, ele é um momento de amor, com seus dois quartetos, dois tercetos e a chave de ouro, que é o grande êxtase."
(Paulo Bomfim)
“A arte de fazer sonetos pode ser comparada à arte de enfiar pérolas”
(Rosemond Gérard)
“A quem o sabe compor, o soneto é um quadro pequeno, sim, onde se podem conter, porém, concepções imensas. Tem as limitações do quadrilátero de uma janela – que se abre para o infinito dos horizontes.”
(Heli Menegale)
“Gemem e gritam as mães para que os filhos nasçam; e os filhos choram ao nascer; mas continua sempre a haver mães e a haver filhos. Os sonetos são filhos da dificuldade. Podemos, pois, concordar que, por isso mesmo não é fácil morrerem.”
(Agostinho de Campos)
“O soneto pode ser, quando muito, um “animal bravio” que um bom domador, realmente poeta, pode perfeitamente “domesticar”. Basta que se tenha longa e íntima convivência com suas normas.”
(Gonçalves Crespo)
...“Tudo depende de terem algo de novo para dizer. E se esse “novo” se formaliza, se concretiza no soneto, não há por que fugir da evidência e procurar sucedâneo falso e inadequado. (...) O soneto, universo fechado como um ovo, prestar-se-ia bem para esse reencontro, graças ainda à sua congênita aliança com a música.”
(Massaud Moisés)
“O soneto está em todas a literaturas e, desde o século XIII, resiste a todas as revoluções. Não há, a rigor, grande poeta que não tenha sonetado. (...) O soneto é, a bem dizer, a carta de identidade de um poeta.”
(Otto Lara Resende)
Nota: Textos extraídos do livro “O Mundo Maravilhoso do Soneto” de Vasco de Castro Lima, Livraria Freitas Bastos S.A - Rio de Janeiro, 1987
Páginas
Poesia de Bolso - Ed. ArtCulturalBrasil/2011
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O Livro
Índice do Poesia de BolsoPáginas
Sonetos
7/ Desenho (Comentado)
8/ Sonho de Papel (Comentado)
9/ Florzinha (Comentado)
10/ Impulsão (Comentado)
11/ Bolhas de Sabão (Comentado)
12/ Fim de Jornada (Comentado)
15/ Afronta Impiedosa (Comentado)
19/ Sonhando (Comentado)
20/ Faltas e Demoras
21/ Velho Órfão
22/ Silêncio em Casa
23/ Quanto Tempo nos Resta? (Comentado)
24/ Enigma
25/ Despercebimento
26/ Porta-retratos
28/ Sonho Quebrado
29/ O Espelho
30/ O Palhaço (Comentado)
31/ Varal de Luzes
33/ O Beijo de Jesus (Comentado)
34/ Musa do Ano Novo
35/ Natal dos meus Sonhos (Comentado)
37/ Domingo em Casa
40/ Almas sem Flores
41/ Crença
42/ Além da Porta
43/ Alminha
44/ Carretéis
45/ Os Afogados
46/ Jardim sem Flores (Comentado)
47/ Mudança
48/ O Vira-lata (Comentado)
49/ Revelação
51/ Repouso no Sítio (Comentado)
52/ Tédio
54/ Noite Fria
57/ Falsidade
58/ Renascer
59/ Poodle
60/ Prisioneiro
63/ Sublimação (Comentado)
64/ Solidão (Comentado)
65/ Esperança Morta
67/ Mãos nos Bolsos
68/ Figurinhas
69/ História Boa
71/ Minha Senhora
72/ Soneto de Natal
73/ O Pai e a Terra
74/ Minha Mãezinha
75/ Brinquedo
76/ Alegoria
77/ Almas Raras
78/ Angústia
79/ As Formigas
80/ Velhice Feliz
81/ Na Poltrona
83/ Ócio e Solidão
85/ Último Delírio
86/ Canção do Rio
87/ O Verso Único
88/ Páscoa
91/ Eu Creio Sim!
93 Restou uma Poesia
94/ Meu Presépio
Quadra
95/ Veritas (Comentado)
Sextilhas
96/ Delírios de Maio (Comentado)
100/101/ Passeio na Cidade
102/ Natal na Rua da Miséria (Comentado)
104/105/ Uma Temporada na Roça
108/ Filhos de Minas
ESPECIAIS JOSÉ ANTONIO JACOB
PPS Clique no seu Poeta
(Magnífica declamação do artista português José Bento)
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(Poema em versos livres)
Site Cenário de Sentimentos
AVSPE José Antonio Jacob
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Homenagem da poetisa Tere Penhabe
(Acróstico Poético)
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(Especial ArtCulturalBrasil)
Mémória de Bibelô
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Além da Porta
(Vídeo de Dorival Campanelle)
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