Bolhas de Sabão
(José Antonio Jacob)
Diverte-se na rua a meninada...
- A nossa vida é um raio de ilusão!
O nada existe e tudo vem do nada,
Sem peso ou forma e sem composição.
Mas um miúdo guri de pé no chão,
Sentado na pontinha da calçada,
Esparge o céu que encobre a criançada
Com nuvens de bolinhas de sabão.
E o menino acredita em outras vidas
Expostas nas pupilas coloridas
Dos seus olhinhos puros de esperança.
E o meu olhar, molhado de emoção,
Também avista o que enxerga esta criança
Nestas pequenas bolhas de sabão!
Introdução
Professora Maria Granzoto da Silva
A princípio, “Bolhas de Sabão”,
transporta-nos à infância, quer seja pelo título, quer seja pelo contexto lido
de maneira rápida ou desatenta! Ledo engano! E até podemos pensar em Literatura
Infantil. Ah! Mas quantos aspectos da cultura e da vida nele estão implícitos! Tudo começou com Charles
Perrault que negou a autoria do livro “Contos da Mamãe Gansa”, pois seu
trabalho poderia não ser legitimado como arte.
Nessa época a literatura tinha a função
ambivalente de Educar/moralizar e entreter alguns poucos privilegiados, pois os
pobres aprendiam e se distraiam através das histórias orais dos povos europeus.
Ah! Quanta saudade das histórias contadas por minha saudosa mãe!
A literatura infantil nasce em meio a
revolução industrial, na qual a burguesia, preocupada em educar seus filhos
para que eles levassem os promissores negócios da família adiante, começavam a
mandar seus filhos para a escola, alfabetizando os meninos e criando meninas
como protótipos de maravilhosas donas-de-casa.
Isso é fato. A sociedade burguesa
emergente começou a se organizar com um modelo pronto de família ideal: pais
aparentemente felizes, filhos estudando para cuidar dos negócios num futuro não
tão distante e meninas fazendo seus enxovais aos 15 anos ou menos. Surgiram
também os grandes nomes das famílias burguesas, que eram decisivos no momento
de escolher um pretendente para a filha.
Começam as novas convenções e a podridão
que se perpetua até os dias atuais através de valores horripilantemente aceitos
por normais pela sociedade.
O Título
“Bolhas de Sabão”: a consoante bilabial
associada a vogal já apresentam o formato de uma bolha, ao serem pronunciadas.
A sílaba que segue, formada por um dígrafo, causa a sensação de liberdade,
soltura, de algo sendo expelido ao léu. Imagino dezenas de bolhas saindo do meu
interior e voando ao sabor do vento, sem rumo... A consoante sibilante parece
reproduzir o mesmo som dos fogos de artifício quando sobem aos céus e a última
sílaba representa o som de uma explosão. A bolha explode!
O primeiro quarteto
Diverte-se na rua a meninada...
-A nossa vida é um raio de ilusão!
O nada existe e tudo vem do nada,
Sem peso ou forma e sem composição.
Divertir-se é alegrar-se, é não se sentir
triste, é comemoração! Enquanto criança estamos normalmente alegres,
independentemente da classe social. À medida que crescemos e passamos a
compreender a vida e seus percalços, num piscar de olhos surge a ilusão: a vida
nem sempre será alegre. Teremos desafios a permear nossa jornada! Descobrimos
então que muito pouco ou quase nada será dantes.
Filosoficamente, Ao pensar-se no “nada”,
associamos à nossa mente a ausência de qualquer coisa que seja, o vazio
absoluto. "Que é Metafísica?", que a pergunta fundamental da metafísica é
"por que existe o ser e não o nada?" (ou "por que existe afinal
ente e não antes nada?", e esta pergunta, pelo cosmólogo brasileiro Mário
Novello, também é a pergunta fundamental da cosmologia, quando tenta
tratar como surgiu o universo, que seria o maior objeto que a ciência pode
tratar. também é a pergunta fundamental da cosmologia, quando tenta tratar
como surgiu o universo, que seria o maior objeto que a ciência pode tratar. Já
na área da Física, é preciso distinguir três coisas: o vácuo, o vazio e
o nada. O vácuo é um espaço não preenchido por qualquer matéria,
nem sólida, nem líquida, nem gasosa, nem plasma, nem mesmo a matéria
escura. Mas pode conter (isto é se o conceito de conter, puder ser aplicado
aqui) campos: campo elétrico, campo pseudo-magnético, campo
gravitacional, luz, ondas de rádio, raios X, ou outros tipos de radiação bem
como outros campos e a denominada energia escura. Pode também estar sendo
atravessado pelas partículas não materiais mediadoras das interações.
O vácuo possui energia e suas flutuações
quânticas podem dar origem à produção de pares de partícula e anti-partícula.
O vazio seria um espaço em que não
houvesse sequer matéria, campos (não gravitacionais) ou radiação. Mas no vazio
haveria ainda o espaço, isto é, a capacidade de caber algo, ainda que não
houvesse nenhum objeto para preenchê-lo. Todo o espaço, mesmo que não contenha
matéria, é preenchido por campo gravitacional. No nada não existe nem o espaço,
isto é, não há coisa alguma nem um lugar vazio para caber algo. O conceito de
nada inclui também a inexistência das leis físicas que alguma coisa
existente obedeceria, dentre elas a conservação da energia, o aumento da entropia
e a própria passagem do tempo. Sendo o espaço o conjunto dos lugares, isto é,
das possibilidades de localização, sua inexistência implica na impossibilidade
de conter qualquer coisa. Isto é, não se pode estar no nada. O nada é, pois, um
não-lugar. Por definição, quando se fala de existência se fala da
existência de algo. O nada não é coisa alguma, logo não existe. O nada é um signo,
uma representação linguística do que se pensa ser a ausência de tudo.
O que existe são representações mentais do nada.
Incrível, poeta Jacob! Quanta cultura
habita nesse poeta mineiro! Quatro versos que me enlouquecem! Como tudo vem do
nada se o nada não existe?
O segundo quarteto
Mas um miúdo guri de pé no chão,
Sentado na pontinha da calçada,
Esparge o céu que encobre a criançada
Com nuvens de bolinhas de sabão.
Aqui se pressupõe um garoto franzino e
pobre (miúdo/pé no chão) sentado numa calçada. Se é uma calçada, está numa
cidade e não na vila ou na área rural. Meninos ricos não procedem assim. Podem
até brincar com bolinhas de sabão, mas com aquelas que compram em lojas de
brinquedo e não as que se preparam em casa. Conheço esses dois lados da moeda! Em
cada uma delas, certamente um sonho, uma esperança, um desejo de vida melhor
ou, quem sabe, de um brinquedo... Mas a colorida bolinha voa até certo ponto e
explode! Deixa, por alguns segundos, a sua marca no lugar em que caiu e logo
desaparece. Sonhos...
O primeiro terceto
E o menino acredita em outras vidas
Expostas nas pupilas coloridas
Dos seus olhinhos puros de esperança.
Sonhos que ele espera um dia serem
realidade. Por isso suas pupilas brilham ao imaginar um porvir diferente desse
que as bolinhas de sabão constroem em sua imaginação. Agora é o nada. Amanhã
poderá ser o tudo.As representações mentais do nada poderão, sim, tornarem-se
realidade! Com filosofia ou sem, com física ou sem. Apenas com a sua coragem de
lutar para que a sua bolha seja colorida e real!
O segundo terceto
E o meu olhar, molhado de emoção,
Também avista o que enxerga esta criança
Nestas pequenas bolhas de sabão!
Certamente que essa criança aguarda por
um futuro sólido e não efêmero como a bolha de sabão! Quanta responsabilidade a
espera! Responsabilidade pelas coisas que lhe vierem acontecer. Só quem assume responsabilidade
pelo que lhe acontece está no comando da nau da própria vida. Os erros não
representam fracasso, mas tão somente feedback negativo, isto é, uma
informação que nos diz que alguma coisa que tentamos não deu certo. Os
erros são uma boa fonte de aprendizado. Assim, aprenda com os erros. Preferencialmente
dos outros. Existem duas dificuldades para se aprender com os erros.
Por um lado, quando erramos, ou não
admitimos e procuramos encontrar justificativas e mesmo arranjar outros
culpados. Ou então, nos sentimos fracassados e diminuídos e com isto não
reagimos adequadamente à situação.
Estejamos atentos a um conselho de
Benjamin Disraeli: "A primeira coisa mais
importante é saber lutar para obter ou manter uma vantagem. A segunda é saber
quando abrir mão de uma vantagem". Assim, tenhamos flexibilidade.
importante é saber lutar para obter ou manter uma vantagem. A segunda é saber
quando abrir mão de uma vantagem". Assim, tenhamos flexibilidade.
Nesta mesma linha, vale lembrar-se
da oração da sabedoria: "Senhor, dai-me força para mudar o que pode
ser mudado. Paciência para aceitar o que não pode ser mudado. E
sabedoria para distinguir uma coisa de outra".
sabedoria para distinguir uma coisa de outra".
Que as suas “Bolhas de Sabão”, poeta,
possam contribuir para um mundo mais justo, fraterno e livre da corrupção que
avassala nosso querido Brasil!
Maria Granzoto da Silva
Poesia de Bolso - Ed. ArtCulturalBrasil/2011
POESIA DE BOLSO
ÍNDICE
Sonetos
7/ Desenho (Comentado)
8/ Sonho de Papel (Comentado)
9/ Florzinha (Comentado)
10/ Impulsão (Comentado)
11/ Bolhas de Sabão (Comentado)
12/ Fim de Jornada (Comentado)
13/ Amor -Próprio Ferido
14/ A Dança dos Pares Perdidos
15/ Afronta Impiedosa (Comentado)
16/ Almas Primaverais
17/ Casinha de Boneca
18/ Nós Somos Para Sempre
19/ Sonhando (Comentado)
20/ Faltas e Demoras
21/ Velho Órfão
22/ Silêncio em Casa
23/ Quanto Tempo nos Resta? (Comentado)
24/ Enigma
25/ Despercebimento
26/ Porta-retratos
27/ Roseiras Dolorosas
28/ Sonho Quebrado
29/ O Espelho
30/ O Palhaço (Comentado)
31/ Varal de Luzes
32/ História sem Final
33/ O Beijo de Jesus (Comentado)
34/ Musa do Ano Novo
35/ Natal dos meus Sonhos (Comentado)
36/ O Ano Bom do Bom Fantasma
37/ Domingo em Casa
38/39/ Elogio à dor do Desamor I e II
40/ Almas sem Flores
41/ Crença
42/ Além da Porta
43/ Alminha
44/ Carretéis
45/ Os Afogados
46/ Jardim sem Flores (Comentado)
47/ Mudança
48/ O Vira-lata (Comentado)
49/ Revelação
50/ O Vendedor de Bonequinhos
51/ Repouso no Sítio (Comentado)
52/ Tédio
53/ Crepúsculo de uma Árvore
54/ Noite Fria
55/ Oração do Descrente
56/ Não Despertes Sonhos Nos Meus Dias
57/ Falsidade
58/ Renascer
59/ Poodle
60/ Prisioneiro
61/ A Mãe e a Roseira
62/ A Saudade Sempre Pede Mais
63/ Sublimação (Comentado)
64/ Solidão (Comentado)
65/ Esperança Morta
66/ A Aurora da Velhice
67/ Mãos nos Bolsos
68/ Figurinhas
69/ História Boa
70/ Soneto para o Poeta Triste
71/ Minha Senhora
72/ Soneto de Natal
73/ O Pai e a Terra
74/ Minha Mãezinha
75/ Brinquedo
76/ Alegoria
77/ Almas Raras
78/ Angústia
79/ As Formigas
80/ Velhice Feliz
81/ Na Poltrona
82/ Oração do Dia dos Pais
83/ Ócio e Solidão
84/ A Prece do Capuchinho
85/ Último Delírio
86/ Canção do Rio
87/ O Verso Único
88/ Páscoa
89/ De Volta aos Quintais
90/ Amada Sombra que Persigo
91/ Eu Creio Sim!
92/ Coelhinho da Páscoa
93 Restou uma Poesia
94/ Meu Presépio
Quadra
95/ Veritas (Comentado)
Sextilhas
96/ Delírios de Maio (Comentado)
100/101/ Passeio na Cidade
102/ Natal na Rua da Miséria (Comentado)
104/105/ Uma Temporada na Roça
106/ O Fantasma que mora em meu Sofá
108/ Filhos de Minas
8/ Sonho de Papel (Comentado)
9/ Florzinha (Comentado)
10/ Impulsão (Comentado)
11/ Bolhas de Sabão (Comentado)
12/ Fim de Jornada (Comentado)
13/ Amor -Próprio Ferido
14/ A Dança dos Pares Perdidos
15/ Afronta Impiedosa (Comentado)
16/ Almas Primaverais
17/ Casinha de Boneca
18/ Nós Somos Para Sempre
19/ Sonhando (Comentado)
20/ Faltas e Demoras
21/ Velho Órfão
22/ Silêncio em Casa
23/ Quanto Tempo nos Resta? (Comentado)
24/ Enigma
25/ Despercebimento
26/ Porta-retratos
27/ Roseiras Dolorosas
28/ Sonho Quebrado
29/ O Espelho
30/ O Palhaço (Comentado)
31/ Varal de Luzes
32/ História sem Final
33/ O Beijo de Jesus (Comentado)
34/ Musa do Ano Novo
35/ Natal dos meus Sonhos (Comentado)
36/ O Ano Bom do Bom Fantasma
37/ Domingo em Casa
38/39/ Elogio à dor do Desamor I e II
40/ Almas sem Flores
41/ Crença
42/ Além da Porta
43/ Alminha
44/ Carretéis
45/ Os Afogados
46/ Jardim sem Flores (Comentado)
47/ Mudança
48/ O Vira-lata (Comentado)
49/ Revelação
50/ O Vendedor de Bonequinhos
51/ Repouso no Sítio (Comentado)
52/ Tédio
53/ Crepúsculo de uma Árvore
54/ Noite Fria
55/ Oração do Descrente
56/ Não Despertes Sonhos Nos Meus Dias
57/ Falsidade
58/ Renascer
59/ Poodle
60/ Prisioneiro
61/ A Mãe e a Roseira
62/ A Saudade Sempre Pede Mais
63/ Sublimação (Comentado)
64/ Solidão (Comentado)
65/ Esperança Morta
66/ A Aurora da Velhice
67/ Mãos nos Bolsos
68/ Figurinhas
69/ História Boa
70/ Soneto para o Poeta Triste
71/ Minha Senhora
72/ Soneto de Natal
73/ O Pai e a Terra
74/ Minha Mãezinha
75/ Brinquedo
76/ Alegoria
77/ Almas Raras
78/ Angústia
79/ As Formigas
80/ Velhice Feliz
81/ Na Poltrona
82/ Oração do Dia dos Pais
83/ Ócio e Solidão
84/ A Prece do Capuchinho
85/ Último Delírio
86/ Canção do Rio
87/ O Verso Único
88/ Páscoa
89/ De Volta aos Quintais
90/ Amada Sombra que Persigo
91/ Eu Creio Sim!
92/ Coelhinho da Páscoa
93 Restou uma Poesia
94/ Meu Presépio
Quadra
95/ Veritas (Comentado)
Sextilhas
96/ Delírios de Maio (Comentado)
100/101/ Passeio na Cidade
102/ Natal na Rua da Miséria (Comentado)
104/105/ Uma Temporada na Roça
106/ O Fantasma que mora em meu Sofá
108/ Filhos de Minas
ESPECIAIS JOSÉ ANTONIO JACOB
PPS Clique no seu Poeta
(Magnífica declamação do artista português José Bento)
O Sono de Pensar
(Poema em versos livres)
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AVSPE José Antonio Jacob
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Homenagem da poetisa Tere Penhabe
(Acróstico Poético)
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(Especial ArtCulturalBrasil)
Mémória de Bibelô
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Além da Porta
(Vídeo de Dorival Campanelle)
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