Trailer 3


TRAILER III





TÉDIO
(José Antonio Jacob)

Eu sou aquele que sonhou na vida
E ao despertar adoeceu de tédio...
Um operário que subiu um prédio
Numa miséria que não tem medida.

Eu sou aquele que sofreu o assédio
De uma amargura antiga e indefinida...
Uma desesperança sem remédio
Numa indigência que não tem saída.

Eu sou apenas um mostruário triste
De gente calma e de expressão nervosa,
Alguém que representa que ainda existe...

E também sou a mesma espécie ansiosa
Que dorme na penumbra e ainda persiste
Amanhecer na vida esplendorosa!


CREPÚSCULO DE UMA ÁRVORE
(José Antonio Jacob)

Sempre terei, por toda minha vida,
Piedade dessa árvore alquebrada,
Que reclinou dócil e entristecida
Deitando a galharia sobre a estrada.

Parece que ela abriga uma ferida
Dentro da frágil alma desfolhada,
Pois que nem mesmo a alegre passarada
Pousa-lhe mais na rama enfraquecida.

Este pomar em volta bem plantado,
Cuja folhagem refloresce ao lado
É fruto dessa árvore tristonha.

E mesmo fraca e envelhecida sonha...
Pois que decerto está sonhando agora
Com as viçosas florações de outrora.


SENHORA MINHA
(José Antonio Jacob)

Senhora minha... Ó anjo bom da vida!
Escrevo-te a saudade que ainda tenho...
Portanto, nessas simples linhas, venho
Dar-te notícias com a alma sofrida.

Nas coisas que restaram não me atenho,
A noite aqui ficou muito comprida...
Tenho tido a expressão também ferida,
A tua ausência me franziu o cenho.

Tu foste, ingênua flor que devaneia,
Por mão de outro destino recolhida,
Para adornar uma ilusão alheia...

E, aqui, tuas lembranças - que são flores -
Perfumam de tristeza a minha vida
No meu velho jardim dos desamores.


EU CREIO SIM!
(José Antonio Jacob)

Freirinhas do amor puro e religioso
Rezai por mim que tremo e tusso ao vento,
E ainda abraço esse frio que é impiedoso,
Quando me encolho a um canto no relento.

Ouvi Noivas de Cristo o meu lamento!
Que ele sai do meu pranto silencioso
E feito prece vai em tom bondoso
Subir nos muros altos do Convento.

Creio no Amor, no Bem, creio em Jesus,
E na Virgem Maria, Mãe de Luz...
No Pai que nos criou: - Creio e não minto!

Eu creio sim, freirinhas inocentes,
No que acreditam seus olhares crentes,
Mesmo que eles não creiam no que sinto!


A MÃE E A ROSEIRA
(José Antonio Jacob)

Essa roseira, sempre silenciosa,
Não teve em sua vida outros caminhos,
E desde que perdeu a última rosa
Dobrou-se sob o peso dos espinhos.

E essa mãe que aqui passa esperançosa,
Amparando os seus filhos de carinhos,
Faz-me crer, de uma forma tão piedosa,
Que vi Nossa Senhora e os seus anjinhos.

A roseira, a chorar as suas dores,
Fica no meu canteiro, ao sol e à lua,
Descrente do milagre de outras flores.

E a mãe, que passa em frente, continua
Esquecida dos próprios dissabores
E vai beijando os filhos pela rua...


HISTÓRIA BOA
(José Antonio Jacob)
(Para minha mãe Heloisa)

“Conte-me uma história boa, a noite é fria!...”
Isto era tão antigo... (e tão recente...)
“Era uma vez...” Então, meiga, sorria
Ao ver meu sono suave e sorridente.

E no outro dia à noite eu repetia:
“Conte-me uma história nova e diferente!”
“Era uma vez querido...” E me dizia
A mesma história boa novamente.

“Conte-me uma história boa que ainda é cedo!...”
(É a velha voz que pela noite ecoa
E ao mesmo tempo conta o meu segredo)

“Conte-me uma história...” A minha voz entoa...
Estou sozinho e sinto tanto medo
De ter chegado o fim da história boa...


NOITE NO BAR
(José Antonio Jacob)

Daqui do bar a noite é pobre criança,
Que lá de fora espia da vidraça,
A espuma doce que desliza mansa
A escorregar pelo cristal da taça.

E dos meus olhos feitos de fumaça,
De indiferença ao lustre que balança,
Envio acenos de desesperança
Detrás do copo onde a bebida passa.

Quando já não me basta mais um trago,
Remexo no meu bolso, dou um afago,
E uma pequena foto se revela...

Bem desgastada dos carinhos meus
E amarelada do sorriso dela,
Onde no verso está escrito: - Adeus!...


FALTAS E DEMORAS
(José Antonio Jacob)

Tu que passas na vida sem saber,
Por que vives e sonhas, e ainda ignoras,
Que a minha alma te segue pelas horas,
Feito luz que acompanha o Amanhecer.

Não disfarces assim tuas auroras,
Pois que finjo de mesmo eu compreender
As razões dessas faltas e demoras,
E do mal que isso está a me fazer...

Por que essa dor que eu sinto é insanidade,
Qual doença que se instala e não desiste
De alastrar-se nas almas onde invade.

Pois que o amor que desejo, se ele existe,
Deve estar muito longe e muito triste
Ou deve ser então uma saudade...


O Vira-lata
(José Antonio Jacob)

Ele aparece sempre de repente,
E vem pela ruazinha ensolarada,
Esmiuçando o seu chão à sua frente,
De vez em quando volta e fita o nada.

E logo vai adiante novamente,
Em gesticulação mais animada,
Quando numa caçamba ele pressente
Ter encontrado um mimo na calçada.

Então vira o latão enferrujado
E ali remexe um sujo guardanapo
Que alguém deixou com resto de comida.

Depois vai removendo com cuidado,
Pedaço por pedaço, fiapo a fiapo,
De uma migalha que sobrou da vida.


ÚLTIMO DELÍRIO
(José Antonio Jacob)

Compõe-me o leito... a noite está tão fria!
E quem o irá fazer senão o vento?
Eu sinto medo, a casa está vazia
E estou sozinho aqui neste aposento.

Se as suas mãos pudessem no momento
Cobrir-me o olhar até surgir o dia,
Deveras, minha mãe, eu dormiria,
Sem ter nenhum vestígio de tormento.

Mas eu me tornei viúvo da Esperança
A olhar pela janela o sol poente
Dissolver os meus dias na distância...

Vem abraçar-me, eu sou tua criança!
E mesmo estando velho, doido e doente,
Ainda tenho você em minha infância!


ORAÇÃO DO DESCRENTE
(José Antonio Jacob)

Tenho vontade de morrer agora,
Mas quem pode dizer se a morte é boa?
Sinto amargura e culpa, hora após hora,
- Que bom se eu fosse alguma outra pessoa!

Que a minha dor na sua dor não doa,
(O que mora com ela sozinho mora)
Não é preciso o riso lá de fora,
Que eu também tenho o meu sorriso à-toa...

Saudade, mágoa, luto, a vida é pena,
Só por nascer... que mal desnecessário!
Por que fazer e desfazer a cena?

É o Tempo que nos dá essa certeza,
Ajoelhe-se e desfie o seu rosário,
Que o fim da nossa vida é só tristeza...


A PRECE DO CAPUCHINHO
(José Antonio Jacob)

Vem lá a procissão de vela e luz,
Colhendo as oferendas dos mil-réis,
E o pobre Capuchinho sem fardéis
- É São Francisco ao lado de Jesus!

À frente das freirinhas de buréis
Anda encolhido, abaixo do capuz,
Desfiando a boa crença dos seus fiéis,
Até a capelinha ao rés da Cruz.

E ali se ajoelha triste para orar,
Depois eleva o olhar ao céu distante,
E busca na amplidão o Deus Amado.

Ó doce Capuchinho abaixe o olhar!
Repare ao seu redor por um instante:
- Jesus está aqui do nosso lado!

(do livro Almas Raras - Ed 2007)







O Livro

Índice do Poesia de Bolso



Páginas



Sonetos

7/ Desenho (Comentado)
8/ Sonho de Papel (Comentado)
9/ Florzinha (Comentado)
10/ Impulsão (Comentado)
11/ Bolhas de Sabão (Comentado)
12/ Fim de Jornada (Comentado)
13/ Amor -Próprio Ferido
14/ A Dança dos Pares Perdidos
15/ Afronta Impiedosa (Comentado)
16/ Almas Primaverais
17/ Casinha de Boneca
18/ Nós Somos Para Sempre
19/ Sonhando (Comentado)
20/ Faltas e Demoras
21/ Velho Órfão
22/ Silêncio em Casa
23/ Quanto Tempo nos Resta? (Comentado)
24/ Enigma
25/ Despercebimento
26/ Porta-retratos
27/ Roseiras Dolorosas
28/ Sonho Quebrado
29/ O Espelho
30/ O Palhaço (Comentado)
31/ Varal de Luzes
32/ História sem Final
33/ O Beijo de Jesus (Comentado)
34/ Musa do Ano Novo
35/ Natal dos meus Sonhos (Comentado)
36/ O Ano Bom do Bom Fantasma
37/ Domingo em Casa
38/39/ Elogio à dor do Desamor I e II
40/ Almas sem Flores
41/ Crença
42/ Além da Porta
43/ Alminha
44/ Carretéis
45/ Os Afogados
46/ Jardim sem Flores (Comentado)
47/ Mudança
48/ O Vira-lata (Comentado)
49/ Revelação
50/ O Vendedor de Bonequinhos
51/ Repouso no Sítio (Comentado)
52/ Tédio
53/ Crepúsculo de uma Árvore
54/ Noite Fria
55/ Oração do Descrente
56/ Não Despertes Sonhos Nos Meus Dias
57/ Falsidade
58/ Renascer
59/ Poodle
60/ Prisioneiro
61/ A Mãe e a Roseira
62/ A Saudade Sempre Pede Mais
63/ Sublimação (Comentado)
64/ Solidão (Comentado)
65/ Esperança Morta
66/ A Aurora da Velhice
67/ Mãos nos Bolsos
68/ Figurinhas
69/ História Boa
70/ Soneto para o Poeta Triste
71/ Minha Senhora
72/ Soneto de Natal
73/ O Pai e a Terra
74/ Minha Mãezinha
75/ Brinquedo
76/ Alegoria
77/ Almas Raras
78/ Angústia
79/ As Formigas
80/ Velhice Feliz
81/ Na Poltrona
82/ Oração do Dia dos Pais
83/ Ócio e Solidão
84/ A Prece do Capuchinho
85/ Último Delírio
86/ Canção do Rio
87/ O Verso Único
88/ Páscoa
89/ De Volta aos Quintais
90/ Amada Sombra que Persigo
91/ Eu Creio Sim!
92/ Coelhinho da Páscoa
93 Restou uma Poesia
94/ Meu Presépio

Quadra
95/ Veritas (Comentado)

Sextilhas
96/ Delírios de Maio (Comentado)
100/101/ Passeio na Cidade
102/ Natal na Rua da Miséria (Comentado)
104/105/ Uma Temporada na Roça
106/ O Fantasma que mora em meu Sofá
108/ Filhos de Minas








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Resposta ao Passado
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Além da Porta
(Vídeo de Dorival Campanelle)


Noite no Bar

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Trailer 1

Poesia de Bolso - Ed. ArtCulturalBrasil/2011




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